Teve uma certa vez, me lembro bem, 11 da noite. Muita gente fingindo e rindo, tocava alguma música . Deixei meus amigos, entrei no carro e mergulhei em mim. Naquela quinta decidi ser um rio. Eu era só uma menina, tantas vezes nadando contra a correnteza, tantas outras, como um corpo sem vida, pulando no rio e deixando ele, simplesmente, me levar. Entrava e saia desse rio, sem rumo, sem ar, às vezes mergulhava pra ouvir algum silêncio e tentava conversar um pouco comigo mesmo. Mas pegar carona no rio nunca me levou a lugar algum.
Sempre foi a mesma coisa de entrar num trem, de perder a placa e seguir a multidão. Sempre foi a mesma coisa de ir pro mesmo trabalho e ter o mesmo penteado. O que eu não percebia é que isso te deixa muito fraco, sem escolha. E se, de repente, estiver tão distraído, pode ser que água te leve contra as pedras ou te afunde. E se, por um descuido, se tornar um grão de areia que se movimenta de acordo com a opinião dos outros, entenda que nunca vai ser suficiente para tudo o que esperam de você.
Daí, antes de virar a esquina, continuei dirigindo, dessa em direção a mim. No controle. Sou um rio, profunda, calma e forte. Sou um rio que descarrego as lágrimas e sigo. Como um rio que sempre será o mesmo ao passo que suas águas nunca são as mesmas. Em seca ou te cobrindo até a cabeça, não volto mais atrás. Sou um rio agora e não tem como sair de mim.