Quando eu sonhava em te conhecer

Quando eu era menina gostava de brincar, aos domingos, de te conhecer. Eu colocava os saltos da minha mãe e um lenço de oncinha. Lembro que nas sandálias tinha um pingente que balançava eu me sentia deslumbrante a cada badalada daquela bijuteria, dourada e horrível, dependurada. Daí seu nome sempre era Marcelo ou Bruno, porque eu achava bonito demais. Aliás, sempre gostei mais de Guilherme, mas é que tinha um menino chato pra caramba na minha sala e estragou tudo. Também ficou prejudicado o nome da nossa filha, Paula. O tempo foi passando e conforme fui guardando as bonecas no armário você mudava.

Eu tinha certeza que quando colocasse os olhos em você saberia, que nós íamos gostar das mesmas músicas e já aguardava os cafés e as surpresas, os bilhetes e até as pazes para as brigas que a gente ia ter. Mas o tempo foi passando e nada. Você ainda não tinha chegado. Sempre dispensei todos os possíveis amores só de dar uma espiada. Não, não era você.

Mas foi numa terça-feira quando te vi perambulando de um lado pro outro. Você passou as mãos no cabelo enquanto ouvi um “ploc” de cerveja na mesa. Daí que nessa altura já tinha miopia. – Hein, e aquele ali olhando pra cá, é bonito? Era isso que importava aos 20 e meio. Quando te vi mais de perto: não era ainda você. E por saber disso não perguntei seu livro favorito e ignorei todas as coisas que disse nunca aceitaria, afinal, não era você. Ah, mas é que passei a gostar, mais que devia, dos domingos de nada com você e do jeito que sorria. E sua ausência de repente fez falta. E eu me tornei dependente de checar seu último horário online. E meu calmante era seu cheiro e feito gato me esfregava na sua barba pra pegar no sono, enquanto não sabia se me olhava assustado ou sonhava junto comigo.

E poxa, será que era você?

Mas é que nos desencontramos, de interessado você passou a se tornar interessante. E quando estava na sua, você já não era mais meu. E em nossos anos e milhas e entre amores e paixões, entre o que é tudo e tanto faz, cá estamos nós: cada um de lado. E, poxa, era você?

Pra ser sincera, sei bem que não. Seu nome não é Guilherme e a gente nunca nem brigou. Você nunca disse as frases da minha cabeça, nem sei bem o que tinhamos em comum. Você não era a pessoa certa e a hora continua errada. Mas o problema é que agora não preciso nem dar espiada em ninguém, não será você. É que todos os possíveis e improváveis relacionamentos sem problemas, o único problema, querido, é que não vai ser você. O problema de qualquer um, não é você.

Quem escreve

Prazer,
Jéssica Alencar

Sou jornalista, escritora e criadora do Querido Indizível. Te convido a dizer e ouvir e ler e escrever sobre as coisas, indizíveis, da vida. Afinal – querido – viver é indizível…

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