Fazer um balanço de nós dois é muito difícil porque sempre pendeu mais para um lado, porque nunca foi porto, só caos. A primeira conclusão que chego é que eu teria que, obviamente, estar muito, muito melhor sem você. Mas não estou. O que acontece comigo deve ser o que acontece com um viciado em fase de abstinência e você foi uma droga em todos os sentidos que essa palavra pode ter.
Eu fui insanamente apaixonada, me apeguei a cada detalhe e deve ser por isso que sei de cor as pintas que cobrem suas costas e me lembro tão bem das suas mãos de unhas curtas como se fossem até as minhas. É inconcebível, então, que elas sobrevoem outro corpo que não o meu. Eu te amei em vácuos enormes, faltava reciprocidade, paixão, cuidado, lealdade, atenção. Faltava mesmo, eu acho, ironicamente, amor. E daí eu me afundei nesse vazio que é encarar a verdade que mais dói: o amor da minha vida nunca me amou.
O amor da minha vida me via sempre como passageira e menina e ponte na qual ele pisava tranquilamente e caminhava rumo ao seu destino que nunca, nem por um instante, eu fui incluída. Quando ele atravessou a ponte e seguiu, eu fiquei. Fiquei pra trás. Fiquei o pó. Fiquei sentindo falta até de ser pisada, de rastejar e de dar tudo o que me faltava.
A segunda conclusão que chego é que eu precisava saber quando por o pé no freio, parar, seguir a minha estrada. Apesar de tudo, e antes de tudo, foi bom? Foi. Mas é isso, foi. Deixar ir quem já se foi ou quem nunca esteve de verdade é tarefa de louco, capaz que é por isso que perdi tanto a razão, também em sentidos duplos.
Uma neurótica, stalker, que sempre apertava “enviar” por nunca receber. Te peço desculpas por isso, por ser quem eu nunca havia sido. De maturidade, meu maior adjetivo, beirava agora a insanidade. Passei do ponto porque achei que todos os pontos finais fossem fins e não recomeços.
A terceira conclusão que chego é que as memórias são caminhos dúbios, de saudade e de martírio. E é isso que dói demais, lembrar dos bons e pequenos momentos, passar na esquina e lembrar de uma risada que demos ali, lembrar que foi lá a última vez que entrei dentro do seu carro, ver na TV esses destinos turísticos pelo o qual já turistamos, fizemos morada, fizemos amor. Até onde não fomos faz falta.
Isso vira um tormento, me impede de usar aquele vestido vermelho de novo, sorrir em tal lugar, abrir as pastas do computador, as redes sociais, as pernas e a alma. Me impede de passar muitos dias sem pensar em você. O mais estranho é que não passa, às vezes, parece que piora com o tempo.
A quarta conclusão que chego é que tive mesmo um puta azar, achei uma cara lindo com quem gostava de passar o tempo, conversar sobre nada, dormir abraçada. Senti todas as afinidades mesmo sendo nós tão diferentes. Me senti à vontade e vontade de ficar sempre mais, senti tudo que é raro de sentirmos assim de cara. Daí as coisas foram saindo do controle e você permaneceu intacto nessa capacidade inumana de ser sempre racional.
Eu me apaixonei, te amei, me descabelei e você continuava o mesmo cara que gostou também de passar o tempo comigo, mas e mais nada. O tempo foi passando e você tinha já seus planos, sua vida tão bem traçada que não esperou o prazo de meio ano desde a última vez que me viu para casar. Você podia estar namorando, noivo, solteiro em qualquer festa, menos casado. Menos com ela. Você mentiu tanto pra mim que ainda acredito, acredito que você é aquilo e não isso. Já doeu tanto e tanto que eu achei que ia morrer, até perceber que já tinha morrido. Você matou muita coisa dentro de mim. Ainda não entendo porque tem tanta gente filha da puta se dando bem, mas hoje eu sei que foi por isso, por você, por azar, nunca foi por mim.
Parei um pouco de me cobrar, exigindo respostas para os porquês, o que ela tem que eu não tenho? Ela tem muita coisa que eu não tenho inclusive você. Não sou de desejar o pior pra ninguém, mas espero que todo esse azar que foi te amar seja agora mais uma coisa que ela tenha e eu não. Estou passando esse karma pra frente. Como de costume, ou de princípio, não vou mentir também: nesse balanço me senti extremamente prejudicada, me sinto numa dívida imensa comigo mesma, com meu amor próprio.
Mas me sinto orgulhosa também de mim, ir atrás do amor da sua vida, mesmo que você não seja o dele é para poucos. Fui corajosa o suficiente pra dizer na lata tudo o que sentia sempre e sempre, fui compreensiva, perdoei, relevei, dei tudo o que eu podia e não podia, o pecado foi só e dar demais, também em duplos e terceiros sentidos. No fim das contas, a conclusão que chego, é que tudo deve ter mesmo um fim.
Tô aqui lendo todas as mensagens, vendo todas as fotos, me lembrando de tudo que consigo, até me sentir exausta e entender, finalmente, que amar nunca deve ser um peso e largar, de vez, toda essa bagagem pra trás. Tô aqui tentando te por num lugar tranquilo do peito. Uma vez você me disse que o tempo passa, as coisas mudam, mas que eu sempre teria um lugar com você. É certo que você sempre terá um lugar em mim também, só espero que esse lugar seja cada dia menor e menor. Que abra espaço para tudo que mereço fazer morada em mim. Por hora ou, se Deus quiser, pra sempre, esse é o último texto que escrevo para você.