Tenho agonia de porta aberta na hora de dormir, mas sempre deixo a do guarda-roupa aberta quando saio apressada. As roupas espalhadas na cama não combinam muito com as separadas por cor e dobradas nas gavetas. Mas nunca combinei coisa alguma que não fosse ser eu mesma. Ao passo que acho breguíssima muitas palavras desse vocabulário apaixonado, como “mozão”, “meu bebê”, “desliga você primeiro”, acho lindíssimo se alguém ainda liga pra ti, te chame de e para alguma coisa. Olha, sou aquele tipo de gente que prepara a alma, a casa e o e o vestido. Se tu falas que amanhã estará na minha porta, preparo a vida toda para que permaneça. De tão pontual me atraso fácil se a conversa é boa, me demoro no pôr do sol e no olhar. Não sei que marca era a bolsa ou o sapato, mas faço reparo em sorrisos, detalhes de “bom dia”, “trouxe um doce pra você”. Se mê vê com a cara de brava na rua, saiba que estou disfarçada por uma imensa bobeira de ser insatisfeita. Saiba que sou doce, docíssima. Sou a pessoa mais responsável possível, mas sou aquela também que sempre te chamará pra fazer coisas descabidas. Que ama todas as atividades mais diferentes possíveis. Sou a pessoa que ama dançar e é a pior bailarina. Não decoro os acordes, mas me ajeito em cifras simplificadas. Sou a pessoa que ama escrever, mas nunca aprende de vez como escrever os “porquês”, que não sabe onde por vírgulas, quanto mais os pontos finais. Sou a mesma que me cobro e me perdoo. Sou aquela que escreve cartas para o sujeito eu mesma. Mas entenda, apesar de amar os silêncios, amo mais as presenças. Sou essa que não combina a personalidade com ela mesma, que não sabe muito quem é, sendo mestre na arte de ser ela, ou eu, mesma.
Você foi tudo e depois se foi
Ontem (como antes e antes de ontem) lembrei de ti Nessa coisa de tentar remontar os momentos E falhar A