Meu amor é um desconhecido

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Meu amor é um estranho. E mais estranho é sua ausência. Do meu amor eu conhecia as meninas e até as mentiras. Do meu amor eu sabia o cheiro, do abraço à meia furada. Eu dividi alguns segredos, lágrimas, qualquer meme da internet. Dividi o macarrão congelado e muitas memórias. Só, e nunca, dividi amor. Dei de sobra, pra somar, pra dormir de barriga cheia, pra jogar no lixo. Como se não soubesse que quem tudo tem nunca dá muito valor. E tudo dei de graça e fácil, nunca foi preciso um “ eu também” pra eu me jogar de cara nesse abismo imenso que ele sempre foi.

Mas meu amor, que sempre foi só m(eu) hoje é um estranho. Meu amor é um desconhecido e nos tratamos como se nunca tivéssemos dado um aperto de mão. Meu amor me deu um “oi, tudo bem?” Foi o máximo que ele pode me dar. E eu que não sou mais a mesma, menina, aprendi com ele a mentir – Vai tudo bem. Aprendi que tudo vai. Desde que meu amor virou um estranho não sei mais de nada. Não sei o que ele teve pro café da manhã, nem qual a última roupa que comprou. Não sei que horas acorda amanhã, se a unha do pé encravada já sarou. Não sei quem passa as nossas tardes de nada deitada naquela barriga gelada. Desde que meu amor virou um estranho não sei mais de nada, nem amar. Desde que meu amor virou um estranho tudo ficou estranho, até o amor.

Quem escreve

Prazer,
Jéssica Alencar

Sou jornalista, escritora e criadora do Querido Indizível. Te convido a dizer e ouvir e ler e escrever sobre as coisas, indizíveis, da vida. Afinal – querido – viver é indizível…

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