Meu medo de esquecer é imenso e frustrante. Antes de acabar o dia eu te repasso mil vezes na minha cabeça, tento reconstruir suas pintinhas, sua cara de “mais ou menos” e suas risadas. Tento sentir mais uma vez seu cheiro de tudo e seu abraço de agora. Meu medo de esquecer tem causa e não cura.
Sei que vou me lembrar e eu me lembro bem daquele dia ruim, do meu vestido vermelho, da viagem, da primeira e da última vez. Mas e o enquanto? E os intervalos? E isso que é de fato a vida?
Querido, do seu cabelo despenteado é o que eu mais quero guardar. As horas que gastamos falando sobre nada e as tantas vezes que ficamos sem saber o que dizer, é isso que não posso esquecer. Não quero lembrar só da noite, mas do meio, porque no meio da noite eu acordei sem acordar com seus dedos cravados no meu cabelo.
Talvez devesse te escrever, quem sabe assim em letrinhas eu te lembre mais. Mas creio que não é de grande ajuda. Já releu aquele diário antigo? O que sobra se não uma cara de espanto com tantas novidades e uma história recriada na cabeça? Tem gente que eu recordo assim, numa mesma novela de cenário inventado. Tem gente que me lembro assim feito dejavú. E meu caro, não me basta.
Por isso, não posso te esquecer. Por isso também quando você diz ” ah tava pensando em você” me sinto menos só e mais nós.
Meu medo de te esquecer é também culpa sua que não me dá muito norte, prazo de validade nem porto seguro. Meu medo de não lembrar é tão grande quanto minha urgência em não te deixar me esquecer.
Talvez devesse pensar e pensar em você o dia todo e toda noite, te lembrar até te ter em meus braços. Muito e tanto até deixar de lado meus afazeres e minha cama. Pensar e lembrar até doer a cabeça e curar o coração. Talvez mesmo devesse apenas viver.
Meu bem, pra esse mal só (sem) uma solução: você.
Aqui. Agora. E pra sempre.