Esqueci o casamento da amiga. Simplesmente esqueci, não foi por falta de importância. Estava largada na sala assistindo algum programa qualquer pra distrair essa cabeça avoada. Larguei as chinelas embaixo do sofá, era em pleno sábado e tinha um monte de vestido de festa guardado sem ocasião para usar. Esqueci o batom, o carregador do celular, mais algumas mil coisas na casa de outra amiga. Disse assim pra ela – A gente só esquece coisas onde queremos voltar. Mentira, porque peguei um avião de volta pra casa e dessa vez não esqueci mais nada. Mas daí me lembrei de quando esqueci a formatura de mais outra amiga. Sou uma péssima amiga, pensei. Esqueci também a data do médico, a chave dentro do carro, deixei meu e-mail logado num computador desconhecido, esqueci. Esqueci de por os sapatos, saí de pantufas e minha mãe me obrigou a descer do carro mesmo assim. Depois eu esqueci de por os sapatos, dirigi descalça, cheguei no trabalho. Liguei pra minha mãe – Me traz um sapato. – True Story. Esqueci de desligar o feijão, de conferir a data de inscrição. Esqueci, te juro, o telefone dentro do armário de comida. Sou uma péssima pessoa, pensei. No guarda-roupa tem uma lista pregada, uma agenda anotada no celular. Notei que esqueci o lugar em que deixei o celular. Fulano, liga pra mim. Ixi, não ouço nada – Esqueci de tirar do silencioso. – Menina, aonde você anda com essa cabeça? Ah, essa cabeça tem percorrido muitos lugares, labirintos, não saí do lugar. De problemas a ilusões. Vivo num mundo à parte, tentando pensar em soluções pra me encaixar nesse mundo. Quase 18 e agora? 20, ops, 23. Quase 25 e agora? Não sei. Não sei, ok? Não me lembro de viver um só dia sem pensar nesse futuro que até já passou. E está passando.
Menina, onde você anda com essa cabeça? Ah, essa cabeça tem percorrido muitos lugares, labirintos, não saí do lugar. De problemas a ilusões. Vivo num mundo a parte, tentando pensar em soluções pra me encaixar nesse mundo. Quase 18 e agora? 20, ops, 23. Quase 25 e agora? Não sei. Não sei, ok? Não me lembro de viver um só dia sem pensar nesse futuro que até já passou. E está passando. É muita coisa: emprego, ser bem-sucedida, sobrancelha, ter ou não ter filhos, problemas em casa, limpar a casa, organizar todas as roupas que tirei do armário. Cartório, banco, imposto, depilação, cachorro. Marido? Ô tia, nem namorado tenho. Fuçar no facebook do ex e do futuro ex. Filhos de novo… acho que não quero. E agora? Viajar na maionese, escrever pro blog, cuidar de quem a gente ama doente.
Trânsito, já se passaram 5 anos e eu não aprendi a dirigir direito. Esqueci o porta-malas aberto, o retrovisor fechado, o farol desligado. Consulta, formatura, noivado, casamento da amiga. Não esquecer os sapatos, responder mensagens, comer 3 vezes ao dia. Outro casamento – Vê se não esquece, aonde você anda com essa cabeça? “O pensamento parece uma coisa à toa, mas como é que a gente voa, quando começa a pensar!” Caetano ou outro alguém escreveu. Sou mesmo péssima ou muito boa nessa coisa de pensar.