Chat, chat, chata

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Oi. – Oi. Seu nome? Vem sempre por aqui? O que faz da vida? Sua banda favorita? Ah, gosta de ler… Vai fazer o que nas férias? E amanhã? Seu telefone, whats app, face, snap.

Chat. Tecla, space, enter. Ops, não. Crtl Z, apaga. Ah, tô cansada. Crtl C, Crtl V de alguma conversa da semana passada. Aí tem minha agenda do mês, semana da tpm, signo, comida preferida, lugares que odeio ir. Tem tudo que você deveria ser, mas já sei que você não é. Tem tudo que eu finjo ser, estamos quites.

Não tô afim de conhecer a sogra, de ir a aniversário da vó, desculpa ando boa pra isso não. Essas crises de homem, aí que dó, me poupe. Tô me lixando pra sua caminhonete, caso você tenha uma. Acho brega demais calça apertada, amigos que se acham e baldinho de whisky na balada, aliás acho “balada” uma palavra breguíssima. Odeio certas palavras. Tipo, top, curadoria, excelentíssimo.

Ah, gostou do meu cabelo? Pode ser que eu o corte. Use a saia mais curta, use o que eu quiser. Às vezes engorde e não esteja sempre bem. Às vezes tô sem saco pra fazer as unhas, usar salto alto. Nem sempre estarei disponível para servir você, fazer tudo o que você quiser, na hora que você quiser. Sou mulher, não sou sua escrava, nem sua mãe. Acho descompensado se você for me ligar de 5 em 5 minutos.

Não gosto de dever nada pra ninguém, muito menos satisfação. Ando sem paciência pra pegar conversinhas no seu celular. Conta no tinder? É que mentir não é defeito é falta de caráter mesmo. Digitando. Chat , chat, chata. Desisto. Não respondo nada. Bloqueia, excluí. – Oi? O que foi? O que eu te fiz? Nada, ainda, nada.

Quem escreve

Prazer,
Jéssica Alencar

Sou jornalista, escritora e criadora do Querido Indizível. Te convido a dizer e ouvir e ler e escrever sobre as coisas, indizíveis, da vida. Afinal – querido – viver é indizível…

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