Cartas pra mim – Conto de Fadas

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Minha menina pegou seus sonhos e guardou no bolso da calça jeans enquanto dobrava seu vestido de princesa. Calçou um tênis surrado, tirou os band-aids que cobriam as feridas do saltos e do que acham que é amor. Minha menina sentou no meio-fio em plena quarta-feira do ano passado e chorou e chorou, isso é o que ela sabe fazer de melhor. Desaguou as velhas mágoas e decidiu que se fosse sofrer seria por novas dores.

Desde os 5 criou seu mundo encantando, resolveu acreditar demais nas pessoas. Sempre gostou de tomar banho de chuva e mesmo hoje inventa alguma desculpa para se molhar, diz que está com pressa e não pode esperar a chuva passar. Na verdade, é que ela adora sentir aquele frio que lava a alma quando uma gotinha toca o nariz. Minha menina arrisca tudo, ela paga pra ver – sempre.

Se joga, com medo, mas se joga. Minha menina gasta dinheiro, tempo, saliva com muitas coisas (e pessoas) que não valem a pena, mas é que ela aposta sempre que há algo melhor. Minha menina briga com o destino todo o dia e como se ele fosse um burro teimoso, ela o puxa, insiste, resiste, fica. Nada contra a correnteza e não posso nem listar as mil qualidades que ela tem. Posso só te falar que é diferente de gente que você costuma encontrar. Que ela é profunda mesmo quando desaba. Talvez por isso você ache graça dessa ingenuidade que ela precisa ter. Mas tem um problema danado em ser tão ela.

Essa indiferença alheia corta feito navalha e basta uma cara feia na rua pra ela se desfazer um pouco. É isso que a mata, essa falta de amor no ser humano, sempre foi. 

 

 Já desisti de dizer “nãos”. Ela me disse que pode tudo desde que entendeu que a vida não chega servida num conto de fadas, que não importa muito o final, mas o caminho feliz (e às vezes triste), que é preciso cortar as tranças de vez em quando, guardar o sapatinho de cristal, beijar alguns sapos e correr atrás se você quiser fazer alguma história.

Quem escreve

Prazer,
Jéssica Alencar

Sou jornalista, escritora e criadora do Querido Indizível. Te convido a dizer e ouvir e ler e escrever sobre as coisas, indizíveis, da vida. Afinal – querido – viver é indizível…

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