Meu cabelo por escovar e eu livre. Minhas unhas sem fazer me dão uma agonia danada, enquanto isso pego sem medo a bola que me jogam aqui na praia. Quando sento sinto minha barriga dobrar em outra barriga que acumulei nesse tempo maravilhoso. Me sinto mesmo cheia. De memórias e de amor. Tudo isso depois que me encheu o saco seguir todos os protocolos desse mundo. É um longo caminho se conhecer, se reconhecer no espelho sem nada além de você, mas é que eu sou muito.
Por isso, minha amiga, esteja ciente de cada buraquinho na sua bunda, do seu humor de manhã, talvez de sua bondade sem tamanho, importa. É preciso estar ciente que cada cada pedaço, mesmo despedaçado, vale. E por valer tanto não convém que você se maltrate assim, se comparando, se menosprezando. Não faz sentido que ninguém, ninguém mesmo, te convença do contrário, te taxe de burra, que critique como você dirige ou se veste, que faça pouco caso da sua profissão ou sentimento.Sendo você tão forte não deixe com que façam te sentir fraca. Está passando da hora de tirar essas caraminholas da sua cabeça porque você tem mais que o direito de ser você, tem o dever.
Querida, essa uma carta sobre mim, para você e por nós. Tudo isso porque dói esconder o riso dentro da alma, controlar o volume da nossa voz. Dói ajustar a roupa ao passar por qualquer homem, dói servir só pra dar prazer. Deve doer ouvir cadê o filho, o marido, o jantar? Dói ganhar menos, ser vista como não competente. Dói ter que ser magra sempre e bem-sucedida. Dói até ter que ser feliz, quando é uma imposição.
É uma longa jornada aprender quem somos de verdade com tantos dedos e nãos apontados desde que somos pequenas. É uma longa jornada se permitir ser mulher. Mas é libertador, te garanto.