Minha amiga vai viajar

Minha amiga está fazendo as malas. Ela jogou na cama três calças jeans, comedida, pensei. Umas blusinhas de variadas cores, um vestido preto na expectativa de um “futuro- ex” alguma coisa, porque ela não está mais na fase de esperar nenhum amor. Minha amiga mudou muito nos últimos anos e de tão doce, hoje carrega um escudo. E de tão ingênua, hoje é uma crítica assídua. Ela continuou fazendo as malas e contanto alguma história sem muitas novidades.

Jogou no bolsinho de dentro quilos de maquiagem, capaz que para esconder um pouco as dores e as olheiras de trabalhar tanto para receber tão pouco. Minha amiga terminou a faculdade junto com seus sonhos, não é fácil arrumar um bom emprego e tudo que ela tem a oferecer sempre foi insuficiente.

-Ué, cadê o biquíni?

Ela deu uma risada cínica e antes do meu “mas” ela correu e pegou um maiô azul marinho, jogou dentro do buraquinho entre os dois zíperes. Ela está tão cansada para ouvir. Então fingi acreditar que ela não iria só dar uma caminhada pela praia com uma camiseta de banda mentindo que não gosta de entrar no mar.

Minha amiga tem um retrato de quando era criança ao lado da cama. Minha amiga mudou tanto. Minha amiga como tantas e eu ou você perdeu muito quando ganhou peso: um comentário da tia, vestidos de festas e um pé na bunda.

Amiga, se pudesse fazer as malas para você eu escolheria a de menor tamanho. Você iria levar apenas um vestidinho florido, porque aquele preto, justo e curto nunca foi a sua cara. Colocaria uma biquíni bem pequeno porque nunca teve razão para você se esconder tendo esse grande coração. Minha amiga, deixaria a camiseta de banda na mala porque tenho uma igual e os caras são mesmo bons para cara*.

No mais, colocaria um pouco de orgulho por tudo que você é e um “foda-se” bem grande no compartimento de fora, só não maior que esse sorriso que, aliás, você deveria levar para todos os lugares.  Boa viagem!

Quem escreve

Prazer,
Jéssica Alencar

Sou jornalista, escritora e criadora do Querido Indizível. Te convido a dizer e ouvir e ler e escrever sobre as coisas, indizíveis, da vida. Afinal – querido – viver é indizível…

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