Cartas pra mim – não espere

Menina, acho bonito isso de esperar o melhor, de esperar pelo fim de semana desde quarta-feira, de esperar o sim do amigo, de esperar surpresa, de esperar o amor na sexta, de planejar a vida de amanhã até 10 anos. Acho até bonito isso de secar o cabelo, por cor no rosto e salto no pé esperando o melhor das noites e do mundo e do outro.
Mas menina, vem cá. Tem muitos problemas nisso tudo. Primeiro, porque nem sempre, aliás quase nunca (você já deveria saber), esses planos malucos que a gente cria com cheiro, endereço e mínimos detalhes realmente acontecem. Você é louca o suficiente, eu sei, pra ensaiar as falas, preparar o vestido com meses de antecedência seja pra uma entrevista de emprego, seja pra um jantar no botequim de esquina. E nessa de esperar o melhor, meu bem, só decepção. Daí você se frusta demais, põe a culpa em Deus e no mundo. E no mudo se cala enquanto chorar baixinho sempre e antes de dormir. E isso é outro problema, a gente pode até esperar (ou tentar esperar) da gente mesmo, mas não do outro. O outro tem outros sonhos, outros egoísmos e outras prioridades. Você põe dentro dessa cabeçinha esses outros, dá pra eles as roupas e as frases de dizer. Dá pra eles tudo isso que você sonha, sem se quer eles saberem. E mesmo se souberem, meu bem, o que doí e cura pra você nem sempre é o remédio de todos. E por fim, querida, pare de esperar. Não espere que ninguém seja seu porto-seguro, tome as rédeas e a vida por você. Não espere companhia aos sábados à noite para ser feliz. Não espere o convite dos amigos para ser feliz. Não espere o amor para ser feliz. Simplesmente não espere. Vá em embora, vá atrás. Sim, vá atrás do que te faz bem, vá embora, se preciso for, da sua casa, da sua cidade, do seu país, do amor que nunca te amou e dos colegas que você chamou de amigos. Quando você parar de esperar e começar a fazer, por favor, encontre felicidade no caminho. Encontre felicidade sempre que puder passar um tempo em sua companhia, seja assistindo um filme, seja encarando a vida de frente. Querida, não espere, vá atrás de você!

Quem escreve

Prazer,
Jéssica Alencar

Sou jornalista, escritora e criadora do Querido Indizível. Te convido a dizer e ouvir e ler e escrever sobre as coisas, indizíveis, da vida. Afinal – querido – viver é indizível…

Me acompanhe

Posts recentes

Da vida adulta

Da vida adulta Vinho Netflix Cancelar a saída Pet Rolê na farmácia Sábado em casa Mas tem lugar pra sentar?

Ler mais »