É que isso não vai durar, você sabia, né?

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É que isso não vai durar. 
Você sabia, né? 
Serenamente eu acenei a cabeça 
Com uma frieza de quem esconde as lágrimas rasgando a garganta. 
E empurra para dentro as palavras e a falta delas. 
E as dores e o adeus. 
Você continuou -É que você sabe que não sou bom em ceder ombro, 
Em viver lutos, nem em terminar. 
Por isso, querida, é que nem chego a começar. 
E eu te perguntei calada, 
Não estava na cara 
Que eu preciso não de ombros, mas de um você inteiro 
Para desaguar a minha dor? 
E não estava na cara que eu sou de morrer junto? 
E que eu não estava nem no começo e nem no fim 
Estava no meio e dentro 
De você. 
De nós. 
É que “nós” não existe. 
Você interrompeu o silêncio. 
Você sabia, não? 
Recolhi as memórias, os beijos 
Seu nariz empinado ficou na hora que fechei os olhos, 
Bem como suas pintinhas e o jeito que você mexe as mãos. 
Me desafundei do sofá 
Carreguei uma tristeza indescritível 
Em um salto agulha. 
A essa altura, parece que era você quem os usava. 
Espezinhava em mim esse desdenho, essa casualidade 
Que era isso que a gente viveu. 
Você calçou meus saltos altos. 
Saí em pedaços, 
Mas fique tranquilo, 
Já saí.

Quem escreve

Prazer,
Jéssica Alencar

Sou jornalista, escritora e criadora do Querido Indizível. Te convido a dizer e ouvir e ler e escrever sobre as coisas, indizíveis, da vida. Afinal – querido – viver é indizível…

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