Querida, cá estamos. Quantos anos se passaram desde que fingimos não nos conhecer. Quanta coisa mudou sem mudar. Você está mais em paz, apesar de estar com os nervos à flor da pele, está mais sábia, apesar dessa sensação de que não fez nada direito. Você voou longe, mesmo sem saber para onde ir. Faz tempo e não faz. Afinal e o que é o tempo?
O tempo é perspectiva, nós aprendemos. E se você continua vivendo por viver, se confundindo na rotina do dia a dia, tem feito tudo errado, me desculpa. Essa era a nossa conversa diária, nosso dilema, nosso mantra de vida. Querida, pelo amor de Deus, me escuta: a gente só se vive uma vez.
Você tem aprendido na pele que tudo pode mudar (e muda) de um dia para o outro e não nos cabe mais sermos ingênuas para lamentar o que não dissemos, o que não vivemos, o bucket list que não nos esforçamos em correr atrás.
Os problemas vão se tornar infinitamente pequenos um dia, você sabe, diante da perspectiva do tempo e da vida. Tudo é passageiro, lembre-se. Todos os momentos ruins, mas também os bons. Se dure em cada momento de felicidade, não gaste o que não se tem pra gastar com ressentimentos, discordâncias, orgulho algum. Não culpe o outro, mas se perdoe. Você não precisa ser 8 ou 80. Não precisa ser boa ou boba, não precisa dizer sim por medo de dizer não e não precisa passar por cima de você para provar coisa alguma para alguém. Você é uma boa ouvinte, querida. Mas se ouça mais.
Quando estiver perdida, me encontre. Sempre vamos ter uma a outra, esse é o lado bom do amor próprio. Aproveite minha companhia quando se sentir sozinha, ria comigo das nossas burradas, não se preocupe em cair, cato seus pedaços, recomeçamos de novo, voltamos atrás nas nossas opiniões, se assim preciso for. Querida, faz tempo. Não venha com essa de marcar de me encontrar. Apenas vá. Deixe as desculpas e passe mais tempo comigo, ou melhor, com você. Não se perca nas coisas do dia a dia, o tempo leva as coisas. E o que, fica, querida? Pequenas amostras de recordações em papel de fotografia ou no canto do peito, uma palavra de amor e a bondade que espalhou em sementes por onde andou.