Sempre achei encantador aqueles tiveram a coragem ou a inocência de ser eles mesmos.
Ouço a moça do caixa ou parente mesmo: – Mas olha esse cabelo. E essa saia? Não precisa ser tão radical, né? Mas eles estavam se beijando em público? Fulano, ficou louco, largou o trabalho e resolveu sumir pelo mundo, virou hippie. Só come planta. 10 anos mais jovem que ela? Deve estar bancando ele, só pode. Ainda não teve filho, acredita? Capaz que não pode ter.
Às vezes eu penso, quem aquela secretaria realmente é? E esse senhor da rua, o que gostaria de ter sido além do que foi? Sempre achei ignorante ou sábio os que se sentem confortáveis nas mais absolutas rotinas. Que reprimem todos os instintos e até sonhos por serem conformados. Levam a vida sem pensar muito em nada que fuja das atividades mais corriqueiras. Às vezes eu gostaria de ser menos eu, pensar menos em tudo que não se resolve na cabeça. Queria amar menos, na verdade, queria sofrer menos. Mas que ironia egoísta, acaba sendo quase a mesma coisa, não?
Eu queria não ser eu pra seguir os dias normais de escritório e trânsito. Queria querer ser neutra. Viver intensamente, às vezes, acho que me encurtam os anos. Como dizia os Engenheiros eu envelheci 10 anos ou mais nesse último mês. Também como fui capaz de ser feliz plenamente em alguns segundos. Se eu não fosse eu seria menos. Então, logo penso, e se eu fosse eu? Se eu fosse eu seria mais. Acho que hora banida do contato humano. Outras seria abraço demorado.
Talvez faria todas essas coisas ilegais e imorais e que engordam. Falaria na lata ou entenderia que o silêncio é menos desperdício de energia. Eu iria dar menos bola pra opiniões alheias. Seria menos civilizada, se eu fosse eu. Se eu fosse eu, seria menos sua também. Talvez seria mais Clarice, se eu fosse eu: “já me senti sorrindo e também senti uma espécie de pudor que se tem diante do que é grande demais”. Se eu não fosse eu ou se eu fosse eu, não sei bem como seria. Assim como não sei bem quem eu seria se não tivesse o tempo, o espaço, as regras, o costume (e você ou sua ausência ncia). Talvez seria mais parecida com coisa alguma além de mim mesma