Pra terminar

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É que isso não vai durar. Você sabia, né? Serenamente eu acenei a cabeça Com uma frieza de quem esconde as lágrimas rasgando a garganta. E empurra para dentro as palavras e a falta delas. E as dores e o adeus. Você continuou -É que você sabe que não sou bom em ceder ombro, em viver lutos, nem em terminar. Por isso, querida, é que nem chego a começar. E eu te perguntei calada -Não estava na cara que eu preciso não de ombros, mas de um você inteiro ? E não estava na cara que não é preciso lutos, sou de morrer junto? E que eu não estava nem no começo e nem no fim, eu stava no meio e dentro de você. De nós.

– É que “nós” não existe. Você interrompeu o silêncio. Você sabia, não? Recolhi as memórias, os beijos. Seu nariz empinado ficou na hora que fechei os olhos, bem como suas pintinhas e o jeito que você mexe as mãos. Me desafundei do sofá, carreguei uma tristeza indescritível em um salto agulha. A essa altura, parece que era você quem os usava. Espezinhava em mim esse desdenho, essa casualidade que era isso que a gente viveu. Você calçou meus saltos altos. Saí em pedaços, Mas fique tranquilo, já saí.

Quem escreve

Prazer,
Jéssica Alencar

Sou jornalista, escritora e criadora do Querido Indizível. Te convido a dizer e ouvir e ler e escrever sobre as coisas, indizíveis, da vida. Afinal – querido – viver é indizível…

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